Violência letal: a contramão entre adolescentes

Enquanto o Brasil reduziu a taxa geral de Mortes Violentas Intencionais (MVI) em 5,4% em 2024, as MVI entre adolescentes de 12 a 17 anos subiram 4,2% — um movimento puxado pelo avanço das mortes por intervenção policial (MDIP), que passaram de 16,6% para 19,2% das MVI nessa faixa etária (Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025).

No total, 2.356 crianças e adolescentes (0–17) foram vítimas de MVI em 2024: 81,1% dos casos foram homicídios dolosos (1.910), 17,3% MDIP (407) e o restante latrocínios e lesões seguidas de morte. A maioria absoluta das vítimas tem 12 a 17 anos (81,2% do total). (Anuário 2025).

Armas de fogo seguem centrais na letalidade juvenil: em 2023, 83,9% dos adolescentes de 15 a 19 anos assassinados foram vitimados por arma de fogo; entre crianças de 5 a 14 anos, 70,1%. (Atlas da Violência 2025).

Violência sexual: acontece dentro de casa e com autor conhecido

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025, os registros mostram que 69,1% dos estupros/estupros de vulnerável com vítimas menores de 14 anos ocorreram na residência da vítima; via pública aparece distante (13,2%).

Em 2024, foram 87.545 estupros no país; ao menos 61% vitimaram crianças de até 13 anos. O total subiu 0,9% vs. 2023, mas, entre vítimas até 13 anos, o aumento foi bem maior (+6,5%).

Quando há informação sobre a relação autor–vítima, 59% dos estupros de menores de 14 anos são cometidos por familiares, 24% por conhecidos e 16% por desconhecidos — mas o dado está ausente em 82% dos B.Os., o que reforça a necessidade de qualificar os registros. 

O padrão doméstico se repete no conjunto de estupros: 65,7% do total ocorreram em residência (67,9% nos de vulnerável).

Perfil das vítimas de violência sexual

A maioria das vítimas de estupro/estupro de vulnerável é negra (pretas e pardas: 55,6%), com brancas em 43,1% — sempre lembrando o alto nível de “sem informação” (30,7%) nos registros.

Crimes correlatos contra crianças e adolescentes

Lesão corporal dolosa em contexto de violência doméstica (0–17): 20.575 vítimas no Brasil em 2024 (taxa 40,4/100 mil), ante 19.314 em 2023 (37,5/100 mil) — alta de 7,8% na taxa.

O Anuário também passou a acompanhar registros de aliciamento de crianças para atos libidinosos e medidas protetivas de urgência da Lei Henry Borel, ampliando a visão sobre violência intrafamiliar.

Bullying e cyberbullying: os números do primeiro ano de tipificação
Em 2024, já com a tipificação penal em vigor, os registros nacionais apontam 2.543 ocorrências de bullying e 452 de cyberbullying envolvendo vítimas de 0 a 17 anos.
Ambiente digital: escalada de denúncias e risco com IA generativa

Entre janeiro e julho de 2025, a Central Nacional de Denúncias da SaferNet recebeu 49.336 denúncias anônimas de abuso/exploração sexual infantil online, 64% de todas as denúncias feitas no período; só entre 1º e 18 de agosto foram mais 6.278. (Nota Técnica SaferNet 02/2025).

A própria SaferNet reporta que o Brasil entrou no top 5 mundial de hotlines que mais colaboraram internacionalmente no combate a imagens de abuso sexual infantil em 2024 (InHope).

O monitoramento de 2025 destaca ainda técnicas de abuso potencializadas por IA generativa (como deepfakes sexuais e aliciamento com conteúdo sintético), indicando necessidade de respostas regulatórias e de moderação mais eficientes.

Percepções sociais: tolerância ao castigo e disposição de denunciar
A Pesquisa nacional Atitudes e percepções sobre a infância e violência contra crianças e adolescentes no Brasil indica que uma parcela relevante da população ainda aceita práticas punitivas: 39% concordam que “às vezes educar com castigos é melhor do que com diálogo”, e 27% acreditam que “castigo é sempre melhor do que diálogo”. Além disso, 25% concordam que “dar um tapa” é aceitável e 16% aceitam “bater com objetos” — e a prática é ainda mais comum: 52% dizem já ter dado tapa e 38% já bateram com objetos em filhos. Quanto à disposição de intervir/denunciar, diante de uma agressão física em via pública, 64% dos entrevistados afirmam que não fariam nada (22% “cada um cuida da própria vida”; 25% “não saberia os motivos”; 17% “gostaria, mas teria medo/constrangimento”). Também chama atenção o desconhecimento do Disque 100: 21% da população não conhecem o serviço. Na confiança institucional, escolas (82%) e serviços de saúde (81%) lideram, enquanto Polícia Militar, delegacias e o Disque 100 estão entre os que reúnem menores níveis de confiança, com pelo menos 17% de desconfiança declarada. Esses achados ajudam a priorizar comunicação, rotas de acolhimento e campanhas de incentivo à denúncia.
[1] Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025 (https://forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2025/07/anuario-2025.pdf). Também disponível em: página da publicação (https://publicacoes.forumseguranca.org.br/items/c3605778-37b3-4ad6-8239-94e4cb236444).
[4] Pesquisa “Atitudes e percepções sobre a infância e violência contra crianças e adolescentes no Brasil” (Vital Strategies, Fundação José Luiz Egydio Setúbal, Instituto Galo da Manhã) (https://www.vitalstrategies.org/wp-content/uploads/Atitudes-percepcoes-sobre-infancia-violencia-contra-criancas-adolescentes-no-Brasil.pdf).
[5] SaferNet – Brasil entra no top 5 de países que mais denunciaram abuso infantil na internet em 2024 (https://new.safernet.org.br/content/brasil-entra-no-top-5-de-paises-que-mais-denunciaram-abuso-infantil-na-internet-em-2024).